segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Digo a todos


Enquanto falo
Erótico somos
Juntamos muitos nós
No Outro ficcional

Só porque falo
Infantil somos
Lançamos em muitos
O Outro mítico

Para isso falo
Sua Mãe
Aquela em que tudo cabe
O Outro nosso

Um corte profundo na defasagem
Entre o singular e o plural
Digo a todos, pois falo
O Grande Outro é público
A posição da palavra
Posição fálica

domingo, 5 de agosto de 2012

Triângulo


Ás
As vezes
As vezes só
As vezes eu choro a morte do meu pai

Eu que possuí coragem para matar meu pai

Eu que possuí coragem para falar
Eu que te amo
Te amo
Amo
Eu

sábado, 4 de agosto de 2012

(Des)encontro amoroso em três partes


CENA I:
Seio materno, boca minúscula que só sabe sugar, mãos que aprendem a apalpar. Se pudesse arrancaria o seio a toda força. O prazer é todo meu.

CENA II:
Frente a frente duas pessoas caminham o encontro. Olham-se, tocam-se, um abraço, um beijo. O prazer pleno é sempre adiado, gozos substitutos entram em jogo.

CENA III:
Uma sinfonia começa a tocar pouco a pouco. Momento raro de contemplação, na platéia um sujeito transcende, todo o amor se abstém do castro e voa mais alto. Abstém-se da boca, do prazer, é apenas amor.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Meta-relato


Sabe o Romeu e a Julieta? Pois é, se mataram.
Por quê? Bem, o porquê eu não faço idéia, mas foi uma overdose; isso eu sei. Muitas pílulas, cocaína? Quando eu entrei naquele quarto me pareceu uma puta d'uma overdose, sabe? Calça no lustre, garrafas vazias, nariz branco, um pouco de vômito, algumas coisas quebradas. Aquilo no meio do vômito realmente parecia sangue.
A posição deles? Pra que vocês querem saber disso?.. Bem, Romeu estava com Julieta nos braços. Chão.
Até que ele estava chorando, e quando eu perguntei o que tinha acontecido, ele disse: “Julieta é minha e eu faço o que quiser”. Ele estava mordendo o ombro dela.
Bem, o Romeu também é meu e eu faço dele o que eu quiser, oras. Mas não quero saber dele agora.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Vela de Vento


Plano
Apesar de escalada

Ritmo
Sem tempo
Todo tempo do mundo

‘Eu vôo sobre a montanha para salvar minha alma novamente’

Oh,
Lugar bonito
Nome infinito

            De longe o cheiro é de tapioca e banana, frita, pouco óleo. Ela não para de falar, sorrir para sempre? Não, doem as bochechas. Às vezes fecha os olhos, boca entreaberta, com areia ainda nos pés. Se eu abro os olhos é para armar a rede, me deitar, uma tenda sobre mim. Sem o mínimo esforço ocular a minha frente é cachoeira, prestando atenção da até pra ouvir.
            De perto é maior, muito maior, mais que nós dois juntos. Se ninguém nos ouve é porque esse lugar é mágico, se ninguém nos vê é porque não querem, ou não podem; talvez pequenino demais para os outros. O que para mim imenso, para nós dois incomensurável. Lugar que vaga no tempo de nossas memórias, lugar nosso.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Estranho barulho

Grite ecos de sua memória do alto, que são mil e seiscentos metros de perdição num retorno que é esperado. Que barulho estranho, que nada. Que um pouco de tudo que volta já não mesmo assim, daquele jeito que foi e nunca mais é, ou foi, será um dia.

Assim ser

O que seria se assim não fosse? É como escrever os ancestrais em cores contemporâneas, num eterno reprise de um tempo elementar e originário, mas ficcional. Sem parâmetros acertados para a certeza e cheio de erros para valores que invariavelmente num debate de no mínimo dois a não discordância reina sob o disfarce de extremos opostos, com olhos vermelhos. As narrativas são de um grande mal entendido. Que bom que assim é.