terça-feira, 23 de março de 2010

Um Nascimento no Verão

Poucas coisas na vida são como nos jogos de dados, nem sempre todos os lados estão equivalentes em peso e as intenções puxam para um lado só. Independente da equivalência e da justeza apostas ocorrem e os dados rolam com frequência. Um jogo de apostas e morte nos lembra o tempo todo a vida. O destino apesar de incerto em alguns momentos como em borrões de cores que se distingue poucos traços ele brilha revelando feixes. E em um bonito dia do fim de verão, para ser mais exato, dia 18 de março quando marcavam o ano 1882, duas típicas chapadinas flores caiam sinalizando a chegada do outono, mais do que isso, brilhou o lapso do destino em dois relâmpagos que poucos viram, apenas duas mães em trabalho de parto.

Nasceu no fim da tarde Horácio de Mattos, e os dados rolaram, justos e firmes, duas folhas caíram, lentas pairando no ar e dois relâmpagos surgiram seguidos de dois trovões, som marcante que muito se repetiria a semelhança. No fim de todos esses movimentos eu também nasci.

Que é a pintura?

A expressão do enigma da visão e do visível: enigma de um corpo vidente e visível, que realiza uma reflexão corporal por que se vê vendo; enigma das coisas visíveis, que estão simultaneamente lá fora, no mundo, e aqui dentro, em nossos olhos; enigma da profundidade, que não é uma terceira dimensão ao lado da altura e da largura, mas aquilo que não vemos e, no entanto, nos permite ver; enigma da cor, pois uma cor é apenas diferença entre cores; enigma da linha, pois ao oferecer os limites de uma coisa, não a fecha sobre si, mas a coloca em relação com todas as outras.

Chaui, Marilena. Cultura e democracia. Crítica y Emancipación, (1): p. 65, junio 2008.