quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Livro, poesia, poema?

Aprenderei a escrever
Das mãos finas de Drummond
Das poucas rugas de Castro
Dos sonetos de Bilac
Das delicadas lentes de Assis

Aprenderei a ler
Com os romances baratos
Com as angústias de Graciliano
Com os poemas pacatos
Com os pensamentos livres criativos

Aprenderei a ouvir
Das pesadas cordas de um violão
Dos ventos que brandam em fúria
Das vozes do anjo da música

Aprendendo a viver
Escrevendo minha mente
Lendo o mundo
E ouvindo, apenas ouvindo

sábado, 20 de outubro de 2007

Frio na Barriga

Jogo álcool por todo o corpo, banho-me com álcool.
A paisagem é bela, mas atear fogo aqui pode ser um pouco perigoso. O objetivo apenas sou eu. Sem sujeira.
Tomo um gole ácido e quente; acenderei primeiro na boca. Começará queimando dentro, principalmente por dentro, uma implosão com fúria e ardor.
Banho-me completamente com álcool, gasolina... inflamável.
Pego o isqueiro...
a mão tremula...
sinal de fraqueza...
não, não está na hora...
A água da represa está gelada, mas eu caio. Limpo toda a sujeira, tudo escorre pelo cano.
Quem sabe um outro dia. Não agora.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Berço de Ouro

Uma caravela está sob o vento do pôr-do-sol
a bordo estão homens
eles se sentam confortavelmente
e vão assim adormecendo dentro de seu sonho de ouro

Em uma hora eles estão lá
no firme berço de sua nova mãe
a visão é boa, o céu ainda é claro

Além da floresta
estão os seus dourados sonhos
e em terra eles já nos viram

Então o senhor no céu invocou
tragam-me esses pequenos mortais
seres estranhos e sem vergonha
uma cobiça sufocada faz a noite

As nuvens correntes riem
balançam acordando os passageiros
das nuvens sai um coro

Nós somos bons amigos
nós somos teus irmãos
queremos teu sangue dourado

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

É o fim?

Naquela cidade de ruas de paralelepípedo, que em época brilhava mais que Paris, fez-se silêncio por míseros segundos e mais sangue que lágrimas foi derramado, mais sangue de apenas um homem que todas as lágrimas da cidade.

Início de tarde, frescor após o almoço, arroz com pequi, e uma dose licor, famoso licor de genipapo da Senhora Magnólia. Nosso coronel andando sem pressa em direcção ao grande prédio central, atravessa a pequena ruela de pedras e com um pé na calçada a cidade faz silêncio absoluto, apenas um baque é ouvido por todos. Horácio sente ser trespassado por um fio quente, incandescente, certamente no coração. Olhos esbugalhados e seu coração pegava fogo, bolos de sangue rolavam em seu estômago tentando sair de qualquer forma. Outro estrondo, mais um tiro.

O tempo fechou, fez-se agora a escuridão, a Paris do sertão, a luz do sertão apagou-se por alguns segundos e o silêncio momentâneo deixou toda Lençóis apagada.