sábado, 18 de julho de 2009

Espírito Andarilho

Numa pequena província formada pelo garimpo, cercada por serras e poucas fazendas de gado vive Horácio, nascido da terra, de moral pacata e formação pacífica, feição séria e passos decididos. Região onde o tempo muda o clima, o temperamento, a vegetação e os tantos contos tenebrosos que circulam nas bocas e ouvidos do povo; do dia para a noite a sensação do frio e do calor muda na pele, as noites são gélidas e prateadas, os dias são quentes e as cores mudam de brasa à um laranja pocã, fruta da terra. Muitas são as águas da região, mas duas delas poucos conhecem, quem descobriu estes dois sagrados poços os chamam de Patrício e Cochó, são águas sagradas e tudo indica uma preciosidade ainda não estimada, aqueles que as conhecem pouco falam, do que se conta apenas ouve-se de sua cor brilhante, vibrante e prateada, quase tão quanto a lua.


Uma das roças mais conhecida da região é a Roça de Seu Jorge, com sua grande floresta e bosques tão falados por suas músicas misteriosas e melodias nunca ouvidas antes. Mas um evento é esperado todos os anos, que acontece antes dos dias quentes e noites congelantes, são as competições, festanças e brincadeiras conhecida como a Fezta, numa clareira localizada no meio de suas florestas ocorre todas as brincadeiras que fantasiam e lembram toda a alegria de um povo que trabalha todo o ano para se encontrar durante algumas horas e confraternizar o suor.


Num dos dias mais quentes do ano um acontecimento marca o dia da vila, um grupo de viajantes incomuns chegam à região, são homens, mulheres, algumas crianças e animais, tão esqueléticos e famintos quantos aqueles contados nas histórias dos anciãos da vila, gente de longe os chamam de retirantes. Esses incomuns espalham a notícia de uma miséria que os expulsou de sua cidade natal, um dia terra farta e num piscar de olhos apenas terra.


Esse fato desperta a desconfiança de muitos entre a população local e a solidariedade de poucos, assustados com os novos habitantes temporários da região, as bocas começa a coçar e as histórias aparecem facilmente, assim como alguns estranhos acontecimentos. Dentre eles a notícia do desaparecimento do tão querido santo que vive na Igrejinha, no meio da serra. Também uma mulher que a noite, vestida de noiva, anda pelas ruas perseguindo qualquer um que passa. E outra estória, que toda a noite ouve-se um pilão a trabalhar e bater em todos os becos da cidade, todos aqueles que se aproximam são tomados por um medo que nem perto passam.


Uma semana após o aparecimento desses estranhos e famintos andarilhos um acontecimento assombra a cidade, avisados um dia antes deste fato a serra está a pegar fogo e todos estão assombrados, muitos colocam a culpa nos estranhos dizendo que eles trouxeram a miséria para o seu povo, “O gado está morrendo, as florestas estão secando e a serra pega fogo. O demônio veio com vocês, vocês trouxeram o espírito do mal”. Um grupo é recrutado para apagar este tenebroso fogo e entre eles está Horácio, na volta desta perigosa missão algumas verdades são reveladas.