sábado, 17 de abril de 2010

Cena IV

A gota com a cena anterior projetada se divide em várias com outras cenas semelhantes. Mais distante. Incríveis outras gotículas brilhantes chocam-se, com força torrencial, contra o vidro daquele mesmo ponto de ônibus, daqueles mesmos dois pacientes agora olhando para cima, para a chuva.
Milhares de outras ilhas delirantes como aquela projetam-se nos choques da água e do sal com os mesmos dois pacientes agora personagens.
Mais distantes que nunca fechamos os olhos.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Cena III

(continua o som do mar, agora mais ameno. É dia e o céu está claro) A onda recua, e com esse recuo nossa visão também se distancia aos poucos: nos mostra a areia molhada, a areia sugando a água, a areia seca, a praia. Cada vez mais distante também vemos os arbustos e coqueiros, duas redes presas e dois homens deitados olhando para nós. Distantes Fechamos os olhos.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Cena II

Começa a chuva e acompanhamos uma única gota, a primeira. Ela segue até bater no vidro misturando-se com o sal e à própria umidade ali presente.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Cena I

Vendo de trás de um ponto de ônibus com quebra-vento de vidro e para-chuva, duas pessoas sentadas esperam a chegada de seus transportes olhando para o lado, o fim da rua. O vento está forte tornando o som da maré mais audível e a branquitude da maresía aparece à luz dos postes também branca. Um carro passa normalmente mas sem chamar a atenção dos nossos pacientes. O salitre deixa manchado o viro do ponto.

terça-feira, 13 de abril de 2010

terça-feira, 23 de março de 2010

Um Nascimento no Verão

Poucas coisas na vida são como nos jogos de dados, nem sempre todos os lados estão equivalentes em peso e as intenções puxam para um lado só. Independente da equivalência e da justeza apostas ocorrem e os dados rolam com frequência. Um jogo de apostas e morte nos lembra o tempo todo a vida. O destino apesar de incerto em alguns momentos como em borrões de cores que se distingue poucos traços ele brilha revelando feixes. E em um bonito dia do fim de verão, para ser mais exato, dia 18 de março quando marcavam o ano 1882, duas típicas chapadinas flores caiam sinalizando a chegada do outono, mais do que isso, brilhou o lapso do destino em dois relâmpagos que poucos viram, apenas duas mães em trabalho de parto.

Nasceu no fim da tarde Horácio de Mattos, e os dados rolaram, justos e firmes, duas folhas caíram, lentas pairando no ar e dois relâmpagos surgiram seguidos de dois trovões, som marcante que muito se repetiria a semelhança. No fim de todos esses movimentos eu também nasci.

Que é a pintura?

A expressão do enigma da visão e do visível: enigma de um corpo vidente e visível, que realiza uma reflexão corporal por que se vê vendo; enigma das coisas visíveis, que estão simultaneamente lá fora, no mundo, e aqui dentro, em nossos olhos; enigma da profundidade, que não é uma terceira dimensão ao lado da altura e da largura, mas aquilo que não vemos e, no entanto, nos permite ver; enigma da cor, pois uma cor é apenas diferença entre cores; enigma da linha, pois ao oferecer os limites de uma coisa, não a fecha sobre si, mas a coloca em relação com todas as outras.

Chaui, Marilena. Cultura e democracia. Crítica y Emancipación, (1): p. 65, junio 2008.