Segurando a caneta de bocal quebrado com a mão direita Adriano quase escreve. A sensação daquele objeto de plástico em sua mão calosa lhe era estranha, uma força desnecessária era imposta entre os dedos fazendo a caneta quase quebrar. Depois de muito esforço ele falou:
- Sabe que eu não sei? - Num misto de pergunta e afirmativa aquela confissão lhe custou à sair, mesmo em seu tom gutural rotineiro.
Com a garganta seca e o suor escorrendo-lhe a têmpora aquele homem, aquele tipo de homem observava Adriano com impaciência. Como que querendo encerrar a 'entrevista' de súbito e irritadiço, o fiscal da prefeitura levanta-se batendo o pé.
- Se nem isso o senhor é capaz de fazer, eu pergunto - abrindo a porta e sugerindo que Adriano se retirasse - o que você veio fazer aqui?
Sem responder, nosso lamentável sertanejo apenas levantou-se, baixou a cabeça e saiu.
Ao sair à rua ao sol matutino em pico que fervia-lhe a cabeça Adriano pensa, pensa quase nada, mas o suficiente para o traquejo consigo. Ele que as vezes quase se entende sozinho.
"Miseráveis malogros que mesmo eu indigente nos olha de cima para baixo. Malditos são os pesos carregados em lombo próprio para que enfim chegada a terra de pedra seja alvejado por armas sem dó. Conto como única defesa este meu sol e meu caminho tão particular de volta aos meus ancestrais que de tempos em tempos vão e voltam nesta hereditariedade social. Mas fazer o que? Sabe que eu não sei?" Neste momento ele afirmava.
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